Se você acha que a medicina se resume a anos de estudo, prática clínica e protocolos rigorosos, prepare-se para rever seus conceitos — ao menos no Hospital Municipal de Marabá, onde parece que o Google virou o novo “professor” dos médicos. Isso mesmo: profissionais que deveriam ser referência de segurança para os pacientes estariam, conforme denúncias recebidas pelo portal, recorrendo à pesquisa na internet para decidir qual remédio receitar.
Não há dúvida que a tecnologia é aliada importante da medicina. Mas pesquisar medicamentos no Google no meio do plantão, como se fosse uma busca qualquer, é não só irresponsável, como um desrespeito completo à ciência e à confiança da população. Protocolos médicos, balizados por anos de estudos e reconhecidos por órgãos como o Conselho Federal de Medicina, não foram feitos para virar consulta no navegador do celular. Essa prática esconde, na melhor das hipóteses, falta de preparo; na pior, um risco concreto à vida dos pacientes.
É revoltante pensar que, enquanto vidas estão em jogo, a “fórmula mágica” para o tratamento seja um clique rápido no Google. E mais revoltante ainda é saber que essa “rotina” acontece justamente em uma unidade que deveria garantir atendimento digno a uma população já tão vulnerável.
Se médicos precisam recorrer ao Google para salvar vidas, talvez seja hora de questionar: o que exatamente estão fazendo lá? E o que isso diz sobre a preparação, o suporte e as condições do sistema de saúde local? Não é exagero dizer que, nesse hospital, a sorte pode estar mais na mão do buscador do que nas mãos do profissional.
No fim, a população merece mais do que um “Dr. Google” de plantão. Merece médicos de verdade — que saibam que, na medicina, pesquisa no Google não cura, mas pode muito bem matar.
(*) Vinícius Soares é jornalista e editor-chefe do portalviniciussoares.com