A adolescente indígena Yape Rê Anambé Guajajara, de 17 anos, morreu após sofrer complicações durante o parto em Marabá. O óbito ocorreu após sua transferência para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional do Sul e Sudeste do Pará, para onde foi levada após ser atendida no Hospital Materno Infantil (HMI). A ocorrência foi registrada pela família na 21ª Seccional Urbana da Polícia Civil no domingo (22), e a causa da morte será apurada em inquérito policial.
Luciane Nascimento, mãe de Yape, relatou ao Blog Marabá & Fatos que sua filha perdeu muito sangue e que a equipe médica tentou reanimá-la antes de confirmar o óbito. Ela também afirmou que, durante a emergência, teve o uso do celular impedido pela equipe hospitalar e não conseguiu utilizar o telefone disponibilizado pela unidade. Segundo Luciane, ela precisou sair do local onde a filha estava sendo atendida a pedido da equipe médica, deixando a filha sozinha.
A tia da adolescente, Regilane Guajajara, liderança indígena, disse que o caso pode se tratar de violência obstétrica. De acordo com ela, Yape teria sido induzida ao parto normal, apesar de não apresentar condições físicas para o procedimento. Regilane afirmou ainda que acredita que a decisão médica pode ter sido influenciada pelo fato de a jovem ser indígena. A liderança relembrou que o HMI já foi alvo de denúncias semelhantes em anos anteriores. No entanto, as suspeitas só poderão ser confirmadas com o avanço das investigações.
A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim), Luana Bastos, acompanhou o registro da ocorrência na delegacia e declarou que o órgão vai acompanhar o caso de perto. Também esteve no local a enfermeira Vanice Costa, conselheira do Conselho Municipal de Saúde (CMS), que afirmou que o colegiado irá solicitar o prontuário médico da paciente e ouvir a equipe envolvida no atendimento, para esclarecer o que de fato ocorreu.
O Comdim informou que avaliará se houve descumprimento da Lei Federal nº 11.108/2005, que garante o direito da gestante a um acompanhante durante todo o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, conforme sua escolha. Segundo o relato da mãe, esse direito pode ter sido violado.
A Procuradoria Especial da Mulher da Câmara Municipal de Marabá se manifestou por nota, nesta segunda-feira (23), lamentando a morte da adolescente, prestando solidariedade à família e à comunidade indígena, e afirmando que está à disposição para colaborar com as apurações, reforçando o compromisso com os direitos das mulheres, das gestantes e dos povos originários. Uma reunião na Sala de Comissões da Câmara Municipal na manhã desta segunda-feira também abordou o tema.
A reportagem do Portal Vinícius Soares tentou contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Marabá e com a direção do Hospital Materno Infantil em busca de um posicionamento acerca da morte da parturiente. Até o fechamento desta matéria, não houve resposta.
Atualização às 14h44 de 23 de junho de 2025
Após a repercussão da notícia, a Prefeitura de Marabá divulgou em seu site uma nota oficial sob o título “Nota técnica do HMI sobre a assistência prestada à paciente de Itupiranga Yape-Reanambe Guajajara”, informando que Yape deu entrada no HMI no dia 16 de junho, fora de trabalho de parto e com quadro clínico estável.
Segundo a nota, o parto foi induzido por indicação médica, e, já no momento do nascimento, a paciente sofreu um quadro de eclâmpsia. Após o parto, evoluiu com duas paradas cardiorrespiratórias, sendo reanimada pela equipe e transferida para a UTI do Hospital Regional.
A nota ainda menciona que o recém-nascido sobreviveu e que os familiares receberam acompanhamento da equipe hospitalar. A Prefeitura se solidarizou com a família e colocou-se “à disposição para outros esclarecimentos”. (Portal Vinícius Soares)